domingo, 5 de novembro de 2017

A aldeia de Mong-Há

De acordo com fontes chineses a aldeia de Móng Há foi um dos primitivos núcleos de povoamento de Macau (um de um total de 8), datando, ao que tudo indica, do século XIII/XIV. No livro "Macau e a sua Diocese", de 1940, o pade Manuel Teixeira escreve, citando Peter Mundy e o livro "The travels of Peter Mundy, Hakluyt Society", editado em Londres em 1919:
(...) O que é hoje a cidade de Macau, era, no seu início, uma pequena península, quase toda árida e escassamente coberta de relva, cercada de inóspitas ilhas e apenas ligadas por uma língua de terra à ilha de Héong San. Habitações havia poucas, sabendo-se que no vale de Móng Há moravam algumas famílias, entre as quais duas originárias de Fôk Kin, uma de apelido Tsum (Sam), outra de apelido Hó. Havia também dois pagodes, pretendendo cada qual para si a primazia da antiguidade: o pagode da Barra ou Má Kok-Miu - Templo da Deusa Á-Má e o Tin Hau Seng Mou Miu, Templo da Deusa Rainha Celestial (...)
Segundo a tradição o nome “Mong-Há” significa “olhando a cidade de Xiamen ao longe”. Nos tempos áureos a aldeia contava com mais de 130 ruas e vielas e ocupava uma área que corresponde actualmente às zonas da Rua de Francisco Xavier Pereira, Rua da Madre Terezina, Avenida do Coronel Mesquita, Avenida do Ouvidor Arriaga, Travessa do Pano, Travessa do Búzio e Beco do Caracol.
Os dizeres do par de dísticos gravados na porta do salão ancestral do Clã Ho da Povoação de Mong-Há indicam que a maior parte dos seus habitantes eram oriundos da cidade de Xiamen, na província de Fujian. A aldeia contava com mais de 500 habitações, sendo os clãs mais populosos Chiu, Ho, Shum, Vong e Hui, que contavam com os seus próprios salões ancestrais. No entanto, o clã dominante e mais populoso era o Ho. 
Sendo uma zona pantanosa e alagadiça (cultivava-se arroz), atravessada por ribeiros e tendo mesmo uma lagoa, depressa se tornou um problema de saúde pública que começou por ser resolvido com aterros sucessivos e o enterramento da lagoa (que ainda foi aproveitada em parte na primeira exposição industrial de 1926). O 'golpe' definitivo sobre a configuração original da primitiva aldeia deu-se com a construção da Av. Coronel Mesquita.


Imagem das várzeas de Mong-Há muito afastadas do centro nevrálgico da cidade.
Curiosidade: são diversos os topónimos que 'contam' a história de como foi esta parte da cidade: travessa do lago, travessa da ponte, rua dos arrozaes, rua da ribeira do patane, etc...
PS: Para quem pretender saber mais informações sobre o tema sugiro os vários artigos publicados pela professora Ana Maria Amaro que fez uma trabalho notável de recolha de documentação, e ainda este artigo publicado na Revista Macau nº 18.

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